PÉ DE FEIJÃO


Raphael Santana


E ele chora, chora, chora, chora muito. É sofrido! Há uns sete dias, toda noite o caçula vem para minha cama, me agarra e chora.
“Mamãe, eu peço para Deus não matar você. Porque ninguém é mais carinhoso, mais legal, mais lindo e fofinho que você. Eu não vou viver bem sem você. Vou sentir muitas saudades se você morrer”. E dá-lhe chororô.
De primeiro, achei que era alguma fantasia em consequência do filme “As Aventuras de Pi.” Depois, me deu medo de o menino estar com alguma espécie de premonição. Vai que nasceu com algum tipo de mediunidade! Não dizem que as crianças até os sete anos podem ver e ouvir o outro mundo? Fiquei assustada, triste mesmo com a hipótese de morrer, já que ainda não me sinto pronta para deixar esta vida. Que me desculpem os que estão me achando louca, mas antes de ser mãe, sou humana e mulher,  o que complica um pouco mais a situação.
Bom, o fato é que de repente a morte passou a fazer parte da minha casa, da minha vida, tomou conta da cabecinha do meu pequenino e eu, a mãe, não faço a menor ideia de como lidar com isso. Não tenho as respostas. “Mãe, quando você morrer, como é que vou te ver?” ou ainda “Mãe, quando é que Jesus vai te levar lá para cima?” Nossa! Isso, se eu for lá para cima. Vai saber o critério. E como explicar isso para uma criança de seis anos? Sei lá, às vezes acho que os antigos é que estavam certos. Nada de novelas, noticiários, escutar conversa de adulto, circular por todos os temas. Não existe maturidade para certas coisas. É fisiológico. Desde que os irmãos mais velhos foram assaltados, 04 ficou obsessivo com o assunto. E não tive como evitar que ele soubesse. Voilá! E eu que achava que a pior fase era a do umbigo, das cólicas e das noites sem dormir. Doce ilusão. 
Claro que procurei uma psicóloga. Segundo a especialista é normal nesta idade este tipo de curiosidade. Geralmente a partir dos cinco anos é que a criança começa a entender que a morte faz parte da vida e é irreversível. Daí o temor que acompanha muitos de nós durante anos a fio. Tratar o assunto com naturalidade é uma boa saída. Explicar que tudo tem começo, meio e fim também. Uma boa oportunidade para mostrar que nossa existência é um ciclo. Me aconselhou a utilizar a experiência do feijão no algodão, uma forma saudável e concreta de interagir com o abstrato. 
Então tá! Gostei da ideia do pé de feijão. Achei bonito. Parece até poesia. A simplicidade da vida para  entender a complexidade dela.

Até a próxima!

Paula Santtana