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Oi? Como assim? Por quê?
Antes que minha filha pudesse terminar ou
me responder, o caçula logo se defendeu:
- Mamãe,
ele mexeu no meu bilau, ué! Isso não é
coisa de veado? Você não disse que não é para ninguém mexer no meu piu piu? Só você que pode?
Então!
Confesso que por um lado fiquei aliviada.
Meu menino, tão pequeno, já é capaz de se defender. Mesmo com tamanha falta de
educação e em tom pejorativo. Mas, é como diz uma amiga experiente: “A gente fala tanto, querida, que alguma
coisa fica. Nem que seja para o uso externo, como dizia meu pai. Podem ser
ogros indefesos dentro de casa, mas se forem príncipes valentes para os
outros de fora, já estaremos com meio caminho andado.”
Por outro lado, nem minha avó usa mais o
termo “veado”.
E quem foi que disse que gays e pedófilos são a mesma coisa? E quem foi que
disse que o tal motorista é pedófilo? Ou homossexual? E em que contexto as coisas
ocorreram? E isso faz toda a diferença. E de onde vieram estes rótulos? Minha
família não é homofóbica. De verdade! E em que burro eu fui me amarrar? Nossa!
E ainda tem gente que acha que ser mãe é passar o dia em casa, sem fazer nada, falando no telefone. É muito selvagem! Poxa, uma coisa é ver a Patrícia Poeta linda, toda
chique na TV ao lado do Bonner, noticiando casos de abuso sexual infantil. Outra
bem diferente é chegar do trabalho à noite e se deparar com algo do gênero. É quase que virar a Patrícia na bancada
do JN! Com as devidas proporções estéticas, claro. Nem por um instante me
ocorreu a hipótese da comparação, obviamente. Mas, voltando, passa muita coisa
pela cabeça nessa hora. Questões profundas! Estruturais mesmo. Trabalhar fora?
Deixar as crianças à mercê? Quanto vale isso? Tem preço? Será que não é mais prudente criar os filhos sem delegar
funções? Pessoalmente? Na simplicidade do amor? Eu sei que tem a turma da qualidade, o grupo que
defende a vida própria dos pais, os que pontuam o aspecto daqueles que estão presentes fisicamente, mas dispensam atenção zero aos filhos. Tudo bem, eu
até concordo. Concordava. Nem sei mais com o que concordo. Estou tipo "barata tonta". Confusa diante de mim. A gente custa a realizar! Sem falar no medo que rola. Denunciar? Expor os filhos? Sofrer represálias? Selvagem, Selvagem, Selvagem! Ainda bem que existe a Anne-Marie Slaughter, ex-assessora da Hillary Clinton, para me fazer companhia nos dilemas do mundo moderno. Conforta saber que não estamos sós no sofrimento.
Sempre que uma coisa assim, mais séria
acontece, penso nas mães que vivenciam ou vivenciaram grandes traumas. Que perderam
seus filhos. Da culpa que devem sentir. Eu sentiria. Me senti culpada. Meu
filho passou por um suposto constrangimento, enquanto eu .... delegava a minha obrigação à terceiros. Está
certo que faço o que posso, tem a conversa toda de ser boa mãe, ninguém é
perfeito, da intenção ... mas o fato, a realidade crua e nua, é que "se os pais naquela situação estivessem
presentes, nada disso teria acontecido." Simples assim! A empregada não teria batido, a
gripe não teria evoluído para uma pneumonia, o dever de casa teria sido melhor
acompanhado, reuniões escolares presenciadas, não haveriam motoristas para “brincar”
ou “bolinar” crianças indefesas, etc e tal. Pensamento de gente controladora? Talvez. A solução? Não sei. Mas, minha avó, se fosse viva,
diria que tudo passa pela falta de "Deus". Na minha vida e na do tal motorista principalmente. E é numa hora dessas que você descobre se tem ou não Fé. Se "Deus" está ou não com você. Conclusão: Tive que abrir mão da minha covardia e compartilhar o ocorrido com as demais famílias usuárias do mesmo transporte. E com a escola também, é claro. Independente das minhas dúvidas, medos e dramas particulares, era o mínimo que eu podia fazer: Denunciar. Afinal, independente de certezas e razões, na melhor das hipóteses, o tal condutor é alguém inábil, que não possui as habilidades necessárias e recomendadas para trabalhar com o universo infantil.
Até a próxima!
Paula Santtana