O PROFESSOR "PIRRALHO"



Ilustração: Raphael Santana





“01” nasceu sem o menor interesse por futebol. Já o “04” beira o fanatismo.
Explico.
O “01” é o primogênito de quatro filhos, um adolescente que até outro dia não fazia ideia do que era impedimento. Vivia completamente alheio ao mundo da bola.

“04”, o caçula de cinco anos, ao contrário. É superinteressado, antenado, sabe tudo, sonha em ser como o Neymar.
- "Faz o penteado igualzinho, hein?! É tudo para cima", diz o menino toda vez que sai do banho.
É flamenguista roxo, convicto, mas reserva um lugarzinho todo especial dentro do peito para o time da Vila Belmiro, o Santos de Pelé. É o fenômeno Neymar no ataque do Peixe. Fazer o quê!?!
O comportamento de “04” é tão curioso, que seduziu toda a família. Não tem a menor graça assistir a um jogo sem o “Pirralho”. É tão encantador, que até “01”, aquele que nem sabia o que era impedimento, hoje reconhece Ronaldinho Gaúcho à frente do Atlético Mineiro. Mais: é ele quem lê o Caderno de Esportes para o pequeno, ritual do qual o garotinho não abre mão e que se tornou um momento de total integração entre os dois extremos da família. Lindo de ver. Delicioso de viver.
O universo infantil é emocionante justamente pelo fator surpresa. É a completa ausência de coerência que deixa tudo mais interessante. Aqui, no meu “Adorável Mundo Selvagem”, não poderia ser diferente: quem ensina é o “Pirralho.
                                                                                                                                          

 Paula Samtana















O DESAFIO DE LIMITAR


Ilustração: Mariana Santana

O álbum de figurinhas "Angry Birds" é a onda do momento aqui em casa . Desde que as crianças o descobriram, nem um "Oi Mamãe!" recebo mais. Ainda no hall de entrada, antes mesmo de colocar os pés dentro do apartamento, sou atacada violentamente pelos pequenos em busca de pacotinhos.
- Você trouxe, trouxe, trouxe? 
Me sinto como uma hiena indefesa diante de um grupo de leões ferozes. Para me safar, fico alguns instantes paralisada. Completamente imóvel, quase sem respirar. Um sacrifício em vão, já que eles não desistem mesmo. A cachaça é tanta que só conversam sobre o tema, só desenham estes passarinhos heróicos, é quase uma forma de tortura. Enlouquecedor! 
Para colocar um pouco de ordem na situação e garantir uma brincadeira saudável, decidi adotar algumas medidas de segurança, antes que alguém ficasse gravemente ferido. Eu, muito provavelmente.
Cada criança vai ter direito a 20 saquinhos, uma vez por semana, especificamente às sextas feiras. Para tal, no entanto, vão ter que cumprir algumas exigências, claro. Primeiro, o quarto deve estar arrumado e os deveres em dia. Segundo, precisarão passar a semana sem brigar e se desentenderem. Terceiro e último, nada de pedir figurinhas nos outros dias da semana.
Cruel? Depende do referencial. Muitas vezes somos nós, pais, que precisamos de proteção. Tenho a nítida sensação que se não houver limite, para valer, vou acabar amarrada no tronco. É imprescindível demarcar território, mostrar uma liderança, quem é que coordena o grupo. Como é difícil essa história de educar. Nossa!!!
Tomar decisões sem saber se estamos certos ou errados, sem experiência suficiente, sem um manual de instruções.  Isso é que é muito cruel.  Demanda bastante esforço, causa estresse violento. A sorte, é o tal do amor incondicional. Sem ele, seria impossível permanecer firme e forte diante dos desafios que o Adorável Mundo Selvagem nos apresenta diariamente.
                                                                                                                                                         
                                                                                                                                                Paula Santana