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A mãe de meu pai adoeceu. Internamos. Noventa dias de muita torcida, mas, o corpo, já bem debilitado, não aguentou. Vovó faleceu. Velório, enterro, missa de sétimo dia, de mês, vida que segue.
Sobre
toda a situação e seu desfecho, não entramos em detalhes com as crianças. Os
menores, claro. 03 e 04 ouviam uma conversa aqui, outra ali, observavam a nossa
esperança, provavelmente percebiam nossa desesperança também, aquela rotina de
quem tem um ente no CTI. Dia muito bem, outro nem tanto. Quando a situação foi
determinada pela morte, me apeguei aos almanaques da vida, sabedoria popular, o
corriqueiro para explicar: “A Bisa virou
uma estrelinha. Foi morar com Papai do Céu.” Simples assim, assunto
encerrado. Vida que segue.
Três
anos passados, sábado de sol, dia lindo no Rio de Janeiro, praia com certeza.
Apronta daqui, arruma dali, enfim, família devidamente bloqueada, rumo ao sol. Para variar,
transito no trajeto. Com o engarrafamento sem motivo concreto, quer dizer, justificado pelo excesso de
carro nas ruas em conjunto com a absoluta falta de planejamento público, conversas rolaram, naturalmente. Papo vai, papo vem, interrompo a tagarelice e aponto para o
Cristo:
- Já deram bom dia ao Senhor Deus, hoje?
Sempre faço isso. Foi a forma que encontrei para tentar concretizar o abstrato. A resposta, veio em coro desafinado:
- Bom dia senhor Jesus.
Imediatamente 02, o pré-adolescente, aproveita o gancho e sugere um passeio, qualquer hora destas, lá em cima, no Corcovado. Os pequenos, intrigados com a proposta do irmão, sem entenderem a motivação do maior, antes mesmo que eu pudesse responder, bravejaram:
- Nãoooo! Imagina só! Não sabe não é? Lá em cima não é passeio não. Lá ficam as pessoas como a Bisa, que viraram estrelinhas. A gente não pode ir lá agora não. Né mamãe? A gente ainda não pode morar com o Papai do Céu, porque a gente não tem cabelo branquinho e ainda não ficamos velhinhos. Dirgh!!!
- Já deram bom dia ao Senhor Deus, hoje?
Sempre faço isso. Foi a forma que encontrei para tentar concretizar o abstrato. A resposta, veio em coro desafinado:
- Bom dia senhor Jesus.
Imediatamente 02, o pré-adolescente, aproveita o gancho e sugere um passeio, qualquer hora destas, lá em cima, no Corcovado. Os pequenos, intrigados com a proposta do irmão, sem entenderem a motivação do maior, antes mesmo que eu pudesse responder, bravejaram:
- Nãoooo! Imagina só! Não sabe não é? Lá em cima não é passeio não. Lá ficam as pessoas como a Bisa, que viraram estrelinhas. A gente não pode ir lá agora não. Né mamãe? A gente ainda não pode morar com o Papai do Céu, porque a gente não tem cabelo branquinho e ainda não ficamos velhinhos. Dirgh!!!
Minha
surpresa foi grande. De onde será que as crianças tiram certas coisas? A minha gargalhada saiu em seguida, óbvio. A resposta foi tão espontânea, tão bem resolvida,
que nem eu e nem o irmão, pudemos contestar qualquer vírgula. A postura dos dois caçulas foi do tipo, “Se liga, brother, deixa de ser tapado”. E como destruir algo que construíram tão
estruturadinho em suas cabecinhas? Não tive coragem. Provavelmente esta lógica foi o resultado de tudo que viram,
ouviram, absorveram, durante a estadia de vovó no hospital. Do pano de fundo que invadiu minha casa naquele período. Resolvi deixar quieto. Achei mais
justo. Mas, porém, todavia, contudo, comprei um livro que fala sobre Deus. “Onde Está Você, Hashem?” é uma historinha, da cultura judaica, que aborda o abstrato de forma simples e delicada. Nesta fase do concreto, a literatura indicada por uma amiga, caiu como uma luva. Me ajudou bastante com "Bam Bam e Pedrita" e é sucesso de bilheteria por aqui, na minha "Badrock". Recomendo ter um destes em casa. #ficaadica. Vida que segue.
Até
a próxima!