SER MÃE É ...




Raphael Santana

Ser mãe é ... ser amorosa, parceira, doce, imaculada, atenta, carinhosa, única, incondicional, etc e tal, mas ser mãe é também ter obrigação de ser mais esperta que os filhos. Explico.
O 04 até bem pouco tempo era muito chato para comer. Todos os dias levava horas diante do prato de comida, a não ser que o menu do dia atendesse pelo nome de Macarrão. Comprometida com a causa materna como sou, achava, acho, meio absurdo sucumbir aos caprichos das crianças e servir seus desejos alimentares rotineiramente. Além disso, o papel de bruxa já andava, anda, me cansando bastante, confesso. Ah! Sim, esqueci de mencionar, mas ser mãe também é ser histérica, estressada, preocupada, desconfiada, carente, exagerada, brava, pegajosa, alguém que grita, berra, consegue assustar toda a vizinhança de uma só vez, do jeitinho que mostra o filme “Minha mãe é uma peça”. Selvagem!!! 
Bom, mas um dia ouvindo uma entrevista na TV sobre diplomacia, questões de guerra, disputas e coisas afins, o tal especialista disse a pérola que iria mudar a minha vida: “Para evitar determinadas situações, devemos observar bem o oponente e usar tanto os defeitos quanto as qualidades a nosso favor. Bater de frente é uma atitude pouco inteligente, que não leva a nada e só gera conflitos.” Uau! Senti que ele estava falando comigo. Para mim.  Tenho certeza que nada é por acaso. Ou seja, eu precisava ser mais esperta que o inimigo (neste caso, meu filho) e usar contra ele tudo aquilo que ele mais ama, sem que ele pudesse perceber que aquilo que ele mais ama iria levá-lo a fazer o que ele mais odeia, que é comer o que eu (a Mãe) acho super importante para um crescimento saudável. Bingo! Perfeito! Conclusão dos fatos?  Assim que pude chamei a professora de futebol para conversar e pedi que ela fizesse uma pequena palestra sobre a relação Alimentação X Desempenho Esportivo.  Adivinhem? Ela topou e foi muito legal. Tanto a reação dela frente a minha demanda, quanto a reuniãozinha que promoveu com a turma. Desde então, meu pequeno jogador come que é uma beleza. É verdade que as verduras ainda sofrem certo preconceito por aqui mas, é uma questão de tempo. Até porque, para jogar bola no clube do coração, meu garotinho faz qualquer negócio.

Até a próxima!


Paula Santtana

"É AÍ QUE ESTÁ A MÁGICA, MEU IRMÃO"


Ilustração: Raphael Santana

Descobri com a maternidade que reclamar é um vício.  Algo que se adquire. Faz parte do mesmo detonador do verbo “Comprar”. As crianças aprendem a falar Papai, Mamãe e Compra. Tenho certeza que muitas vezes nem estão com fome, com sede, com qualquer tipo de desejo, mas a necessidade de exercitar o “compra” é bem maior e mais forte que a vontade de receber alguma coisa propriamente. Estes dias fui busca-los no colégio e mal me viram, atacaram sem dó e nem piedade:
- Manhê, compra a pipoca! Estamos com sede, queremos mate.
E sem conseguir pestanejar fui andando até o caixa da cantina e roboticamente fui fazendo exatamente o que desejavam. Comprei as pipocas, os mates e, enquanto a cena toda rolava ali, pensava comigo:
- Puxa, nem perguntaram como estouA parte de mim que mais importa para eles chama-se carteira. E isso pode significar que mais tarde, quando eu ficar velha, precisando de carinho, talvez ate de cuidados especiais ... Que medo!
E meus pensamentos não deram trégua, continuaram em frente:
- E, vem cá: o que mata a sede não é água? Todos os dias lanchinhos terão que ser proporcionados? Já parou para pensar no que isso significa emocionalmente? Na mensagem subliminar? Na construção do caráter destes meninos? 
E meu “eu” interior me fez lembrar de uma amiguinha que para poder entender a minha vida, diz sempre multiplicar por quatro o que acontece na dela. Com relação a tudo: Amor, tempo disponível, festas escolares, demanda acadêmica, rotina doméstica e os gastos financeiros. As estrias, celulites, gorduras localizadas, flacidez e cabelos brancos também estão nesta conta, é óbvio. Ah! E isso me fez recordar o que outra amiguinha postou recentemente nas redes sociais: “Se eu tivesse o Marcio Atala à minha disposição ..... queria ver Sabrina Sato e meus filhos tirarem onda.” Achei ótimo!!!
Bom, mas como ia dizendo, mesmo diante das pipocas e mates, ao invés de alegres, felizes e contentes, meu rebentos pareciam ainda mais irritados e rabugentos. Conseguiram reclamar de tudo e mais um pouco, de repente começaram a brigar entre si e todo aquele clima, aliado ao trânsito do Rio de janeiro e mais as reprimendas do meu “eu” interior, foram suficientes para detonar o lado selvagem que vive dentro de mim:
- Cheeeeegaaaaa! Será que é muito pedir para que vocês se sintam simplesmente felizes?!?! Independente do que têm ou deixam de ter? Onde é que estou errando para não conseguir nem um “Oi, mamãe, como foi o seu dia?” Fiz tudo o que pediram e ainda assim, conseguiram reclamar, brigar, criar este clima insuportável!?!? Acho que o problema é exatamente este, sabem: Estou dando a vocês muito mais do que precisam para viver. Não estou dando à vocês a oportunidade de lutar, de conquistar e de também se frustrarem diante das situações que a vida apresenta.
E antes que pudessem sequer levantar a sobrancelha para concordar ou não, continuei:
- Vou colocar uma musica agora, de uma banda chamada “O Rappa” e quero muita atenção. Silêncio absoluto e extrema atenção. Eles vão contar a historia de uma família pobre, que mora no meio do caos, mas que mesmo assim, diferente de vocês, insistem em sorrir e cantar, porque acreditam que este tipo de atitude nunca é em vão. Uma família que tem a mania de achar alegria, motivo e razão onde todos dizem que não, porque sabem que é aí que está a mágica da vida, meu irmão!

Até a Próxima! 

Paula Santtana

ENTRE UMA QUESTÃO E OUTRA

Raphael Santana



O pediatra acha interessante uma reeducação alimentar. De primeira, antes de procurar uma nutricionista, acha importante conscientizar. E para conscientizar, legal se eu, a mãe, puder anotar tudo o que a criança comer durante uma semana inteirinha. É isso mesmo: um diário completo por sete dias de tudo o que for consumido na hora do café, do almoço e da janta. As beliscadas inclusive, evidentemente. Cansaram? Eu fiquei exausta só de ouvir, confesso. Quando penso que vou começar a sair do tronco .... Selvagem!
A ideia central é não estressar, diminuir ao máximo a ansiedade frente a uma provável restrição dos alimentos “gostosos”. Evitar uma relação neurótica com a comida. E, segundo o doutor, esta questão vale para mais ou para menos, ou seja, insistir para que o filho coma mais, no desejo que ele engorde ou cresça é prejudicial na mesma proporção que o inverso.
Acredito que minha situação seria bem mais fácil se o lance fosse apenas evitar doces e refrigerantes. O problema é que minha cria é democrática no quesito alimento tal qual eu fui a minha vida inteira. Traduzindo: do fast food ao macrobiótico, amamos tudo que é comestível. Ir para a cozinha preparar sanduiches, bolos, tortas. Alegria em função da boa mesa é uma temática na minha família. Todos já nascemos assim. É genético. Desconfiamos de quem não gosta de comer. E por quê? Por que existe o componente Engorda? Para quê, reformulando a pergunta? E isso me leva a refletir sobre o preconceito que sofrem os gordinhos. Toda essa história de inclusão. Palavra aliás, esta, que serve para tudo, menos para quem está fora das medidas. Sim, porque se existe uma categoria que permanece à margem da sociedade, essa classe é a dos gordos. Ninguém se preocupa com gordos. Ninguém tolera os gordos. São encarados como relaxados, pessoas preguiçosas, sujas, sem asseio. E sei muito bem do que estou falando porque nasci avantajada. Cresci avantajada. Só não sofri bullying na escola porque minha inteligência chamava mais atenção do que meus quilinhos a mais. Inteligência para o mal, admito. Tinha um certo talento para o deboche, o sarcasmo, fazia parte da turma dos fundos. E recentemente soube que Tatá Werneck também integrava esta faixa na sala de aula. Que a atriz Fabiana Karla nunca sofreu socialmente com a obesidade por conta da autoestima elevada. Olha, olha ... e pensar que eu poderia ter sido tipo uma das duas?!?!? #Só que não. E a situação do meu baby é bem diferente da minha também. Nasceu com bom coração. Outro dia caiu da escada quando a garota da sala ao lado gritou em público: goooooorrrrrdaaaaaa!!!! Sacanagem. Ficou tão assustada que tropeçou e rolou até embaixo. Aí me lembrei da filha de uma amiga querida que saiu com a seguinte pérola outro dia:
- Mamãe, eu não tive sorte mesmo, né? Nasci de cabelo crespo, morena e gorda.
Oh, dó. E ela é uma graça! Um absurdo a forma como está construindo a própria imagem diante do espelho. Cruel!!!
Bom, mas desabafos e lamentos à parte, vamos em frente, porque atrás vem gente. E bem magra, imagino eu. O momento é de entender e assimilar a importância da saúde, de comer direito, mesmo que as cantinas escolares digam o contrário. Sim, sou do time que acha que as escolas deveriam ter aulas de culinária, educação alimentar, oferecer lanche saudável e homogêneo às crianças. As mensalidades que pagamos são bem salgadas. Não sou especialista, mas acho que dava para incluir na grade curricular sem precisar de acréscimo. Educar para mim, significa abranger este tema também. Já disse aqui diversas vezes que educação é muito mais que matemática, português, geografia e história. Mas ... tudo bem, enquanto o ideal não acontece, vou caminhando entre uma questão e outra que surge neste meu Adorável Mundo Selvagem que é a maternidade.

Até a próxima!

Paula Santtana