UM SONHO DE PRESENTE


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E como diz a canção, “... Então é Natal e Ano Novo também....”, tempo de festa, renascimento, compaixão, tempo de aclamar Jesus, ir de encontro a tudo que diz respeito ao ego. E antes que me chamem de piegas, sentimental, me adianto e já me intitulo como tal. Para celebrar a autocrítica e a festa cristã, uma história verídica. Um presente que ganhei e decidi passar adiante.
Era uma vez um menino carioca, morador de uma comunidade carente, que queria muito frequentar a escola de sua região. Um Ciep. O pai, no entanto, não via com bons olhos a escolha do garoto. Explico. É que na concepção deste pai, o filho tinha que seguir seus passos profissionais em vez de perder tempo com números e livros. Para ele, um desperdício. O importante era manter os negócios da família funcionando a todo vapor. Tráfico de drogas para ser mais exata. 
Bem, o desfecho seria óbvio, não fosse um grupo de professoras desse Ciep do subúrbio de uma certa cidade maravilhosa, que decidiram lutar arduamente para garantir os direitos de estudo do menino. Estavam determinadas a entrar nessa guerra. Resolvidas a realizar o sonho do garoto. Para isso, acionaram o Conselho Tutelar, organizaram procissão até o topo do morro, enfrentaram com lápis, borracha, cadernos e tabuada o temível dono da área: o pai. De emocionar. De arrepiar mesmo.
Me pergunto: quantos de nós se importa com os sonhos alheios? Quantos de nós luta pelo sucesso dos outros? Quantos de nós despende tempo, se arrisca, em prol de um irmão ou irmã? E principalmente, quantos de nós ajuda, sem esperar nada em troca?
Hoje, concluído o segundo grau, livre da sombra da criminalidade, sonha em ser médico. Está tentando uma universidade pública. Um horror para o pai, claro. Este enxerga o filho como uma “ovelha negra”. É até engraçado, olhando de fora.
E como é Natal e Ano Novo também, não podia deixar de compartilhar este exemplo de amor ao próximo. Essas professoras transcenderam às suas funções, saíram de suas zonas de conforto por causa de uma outra pessoa. Não desistiram no caminho. Não fraquejaram diante dos obstáculos generosos. Foram até o fim, por amor. Exerceram na prática o que muitos professam apenas na teoria: “Amar o próximo como a si mesmo”. Lindo demais! Contagiante. Dá até vontade de sair por aí realizando sonhos.

Até a próxima!

Paula Santana






"PAU QUE NASCE TORTO, SE ENDIREITA?"

 
 
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E um dia a marginalidade invade a casa. O filho cresceu e com a maturidade, o aterrorizante. A mãe não reconhece mais o ser a quem deu à luz. Dá-se conta que amamentou e trocou as fraldas de um estranho. Bem triste. Os pensamentos torturantes não saem da cabeça: “Onde foi que eu errei?”. Clássico. A culpa é inerente às mães e, quando as drogas vêm de assalto, é impossível não alimentar ainda mais o sentimento. Não há quem sobre inteiro numa família vitimada pelos cracks e cocaínas da vida. Os cortes são profundos, as cicatrizes estão sempre na iminência de sangrar novamente. Principalmente, se o vício andar de mãos dadas com a criminalidade.
Meu filho esta traficando.” Foi o desabafo de uma amiga. Chorando como uma criança, confidenciou a vergonha que sentia lá no fundo da alma. Seu corpo já não tinha mais forças. O espírito perdeu os sonhos, os desejos, perdeu tudo. Inclusive a raiva, a ira e a inveja. Um cenário deprimente. O desespero era tanto que chegou a dizer que preferia ver o menino morto.
 “A morte é uma fatalidade, a bandidagem, uma escolha.”
Engraçado o Ser Humano. Tem coisas que acreditamos nunca acontecer conosco. Aids, câncer, drogas, a morte. É sempre com o vizinho que admitimos o “anormal”.
Minha amiga nasceu em lar humilde, mas sempre trabalhou duro. Fez-se gente na vida, conseguiu melhorar financeiramente e tudo o que pôde, deu aos filhos. Um especialista de que agora não me recordo o nome, disse outro dia em algum programa de TV que o problema dos “jovens delinquentes” é causado pelo excesso de amor dos pais. Segundo o “Doutor”, crianças precisam crescer com certa dose de decepção e frustração. Devem ser educados para viver com pouco. Um presente de Natal apenas, por exemplo. Mesada nunca, pois dinheiro não cai do céu, não dá em árvore. É imprescindível que o filho realize uma tarefa para ganhar remuneração. É importantíssimo delegar metas, cobrar responsabilidade. Evitar o boletim como moeda de troca. Esporte também. Estudar e se exercitar devem ser hábitos estimulados desde cedo. É preciso que os pais enxerguem seus filhos. Com qualidades e defeitos. Principalmente os defeitos e é obrigação do pai e da mãe reprimir e repreender comportamentos como egoísmo, oportunismo, vaidades, preconceitos e afins. Confesso que acho bastante difícil encontrar o tom. Formar pessoas é tarefa árdua. Não há uma receita. Mas ficam aí as dicas do “Estudioso”.
Minha amiga, ao contrário, sempre proporcionou satisfação absoluta aos filhos. Brinquedos, roupas, saídas, viagens, tudo que os meninos desejaram, receberam. Isso testemunhei. Porém, ela jamais imaginou, nem por hipótese, receber em troca a desonestidade e frieza de qualquer um deles. Que pudesse estar fazendo errado ao “amar demais”. Isso nunca.  Nem em sonho. Mulher honesta, boa. Família de tronco firme. Não consegue entender, conceber, como foi que de dentro de suas entranhas pôde sair um “pau torto” destes.  Muito duro para uma mãe. Duríssimo para esta mãe.
Acredito que minha amiga desconsiderou um detalhe fundamental, capaz de levar por água abaixo todo um trabalho dedicado uma vida inteira: A índole do rapaz.  E como controlar, prever? Como resolver? Já existe remédio, tratamento para caráter duvidoso? Pau que nasce torto, se endireita? Educar não é ciência exata. Infelizmente, não me canso de repetir. A conclusão disso tudo? Não sei, mas talvez o exercício do autoperdão já seja um bom começo.

Até a próxima!
 
Paula Santana
 

 
 

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PAPAI NOEL EXISTE?


Alexandre Sant'Ana


Lembro até hoje do dia em que descobri que Papai Noel não existe. Como sofri. Fiquei magoada, me senti enganada, traída mesmo.  Me recordo de ficar horas pensativa a respeito: por que os adultos fazem estas coisas conosco, as crianças?
Os anos se passaram, cresci, me formei, casei, tive filhos, não na mesma ordem, mas enfim, lá estava eu, tramando contra os meus rebentos também. Na minha família sempre comemoramos o Natal  na véspera,  dia 24 de dezembro e, faça sol ou chuva, Papai Noel, à meia-noite, aparece e entrega os presentes pessoalmente. Vejam só a sandice: Papai Noel aparece, pessoalmente. Sempre há um tio que se propõe ao papel, ou melhor, é obrigado, em pleno verão, a interpretar a caráter o bom velhinho. Olhando assim, nem eu imaginava que éramos tão loucos. Já dizia alguém, não é? “De louco e alguma coisa, todos temos um pouco ”. Adoro aquela também: “De perto, ninguém é normal”.
Poxa, eu era uma menina de sete anos, cheia de sonhos e fantasias, era muito “bebê” nessa idade, demorei para amadurecer. Nem sempre a cabeça acompanha o corpo.  De repente, me deparo com um Papai Noel com a voz anasalada, o nariz marcante e o dente superior frontal levemente quebrado, características exclusivas de meu tio. Foi triste. Não por ele, claro, mas pela situação, óbvio. Ele era a outra vítima, coitado. E depois, o pior, o restante da família insistindo em manter  a farsa, me tratando como louca! As mulheres da família, aliás. Tenho que ser justa. Os homens, nessas situações, normalmente são manipulados.  Fizeram de tudo para eu continuar  iludida, acreditar que estava enganada. Valia qualquer coisa para manter o “circo”.
 “Imagina, querida, você esta vendo coisas!”  Olha isso? Vendo coisas!!
Sabem o que fiz com os meus filhos? A mesmíssima coisa. E com requintes de crueldade ainda maiores. Para simular uma barrigona, costumo adicionar um travesseiro enorme à fantasia. Papai Noel bacana tem que ser bem gordão. Né não? É incrível como nos revoltamos com nossos pais, como somos certos de que faremos diferentes, cheios de arrogância julgamos suas condutas e, um dia, sem mais e nem menos, reproduzimos o mesmo comportamento deles. Dá medo! Estão mais vivos dentro de nós do que podíamos supor. Tá explicado o sucesso de Freud. A genialidade de Renato Russo: “ ... O que você vai ser, quando você crescer...”
Meu filho 02 veio direto, “Mamãe, o Papai Noel é o tio! Olha lá, o travesseiro está caindo, a voz dele é rouquinha e ele está segurando uma cerveja, igualzinho o titio faz!!!!” Eu não conseguia parar de rir. A cena era mesmo tosca. Eu senti muita pena do Papai Noel. O pobre do marido da minha prima, um apaixonado por crianças, aceitou a missão. Fantasiado num calor daqueles de Brasília, esforçando-se muito para manter a tradição familiar, fez tudo certinho para agradar a garotada.  Mas 02, um virginiano minucioso, pescou a marca da cerveja. Um aparte: é maravilhoso ser mãe de um virginiano, mas é assustador na mesma proporção. Ô gente para enxergar o que mais ninguém é capaz! É o único dos quatro que em segundos, percebe se mudei um garfo de lugar.
Voltando. Vivenciar a mesma situação, por outro ângulo, foi fundamental para que eu pudesse efetivamente entender e até absolver meus pais. Olha a ponta de arrogância aí: quem sou eu para absolver alguém?  A intenção foi a de manter o máximo de tempo a fantasia, a magia, os sonhos acesos dentro de nós. Não eram loucas e sim, sábias, as mulheres de minha família. Tentaram de tudo para manter o colorido do mundo vivo em nossos corações. Precisei ser mãe para entender isso. Enfim, minha resposta ao 02 não poderia ser outra: “ Eu não estou vendo nada disso, meu filho. Acho que você é que esta vendo coisas.”

Até a próxima!

Paula Santana









ENTÃO É NATAL!


Anne Guedes

Então é Natal, tempo de festas, presentes, comilança, a crônica deveria ser algo relacionado, eu sei, mas estou com um assunto preso na garganta.
Dizem que educação vem de berço e nada tem a ver com dinheiro. Pois bem, preconceito também. Em pleno século ... atual (desculpem, mas sempre me perco com esta numeração), ainda me deparo com coisas B-I-Z-A-R-R-A-S. Tipo: “Meu filho não frequenta a Zona Norte”. Ou o contrário: “Mora na Zona Sul? Ah então, tem grana”.
E as crianças vão absorvendo tudo isso. Existe maldade maior? De maneira subliminar, incutir em outra pessoa, indefesa ainda, frustrações e recalques pessoais? Porque me desculpem os “Doutores”, mas, para mim, preconceito tem a ver com estas duas coisas: frustração e recalque.
O que seria da zona sul sem Martinho da vila? E da zona norte sem a praia?
E se sairmos do Rio, a coisa pode ficar ainda pior. A cidade maravilhosa possui uma geografia que integra, aproxima e este fator, atenua um pouco a babaquice. Morro com asfalto, rico com pobre, negro com branco, baianas que jogam búzios no quintal de igrejas católicas, uma miscelânea só. "Deus" devia estar querendo dizer alguma coisa quando criou tudo isso. Ou não, como diria "Professor Caetano".
O fato é que me irritou profundamente saber que ainda estas mediocridades correm e com força total por aí. Isso sem falar nos gordos. Como sofrem. Nossa!!! Essa turma sabe bem o que é preconceito. Pergunte a um gordinho como ele se sente diante de uma vendedora de roupas, nas cabines das lojas? E o triste é ver, constatar que tudo isso vem de casa. E esta gente toda vai a Igreja, reza, acende vela. Bom, mas como bem diz meu pai, em nome de Deus mata-se para caramba no mundo inteiro e faz é tempo que isso acontece.
Então é Natal e eu aqui, cheia de indignações e razões, quase uma “Jaborzinha”. Tá bom. Me rendo. Vou compartilhar com vocês o que escrevi para Papai Noel este ano:

Querido Alguém da cidade que foi ao correio apadrinhar uma criança e se deparou comigo, rsrsrsrs, não se assuste. Sim, sou uma adulta, mãe, enfim, Como vai você e a família? Espero que bem. Minha cartinha é muito mais uma tentativa de propagar em corrente uma ideia, do que a expectativa de ganhar um presente do Bom Velhinho. Mas, por favor, leia até o final, antes de me jogar num lixo qualquer. É Natal, então seja caridoso.
Sou contra cartilha gay. Sou contra cotas também. Não quero meus filhos e nem os seus, compactuando com estas formas explicitas e organizadas de exercer o preconceito. Eu quero e desejo que você e eu possamos ter inteligência e sabedoria, para ensinar a eles o que é respeito. Igualdade entre os seres. Gentileza. E que eles possam divulgar pelo mundo este conceito.
Desejo também que percebam a importância de uma escola pública de qualidade, para todos. De uma cidade bem cuidada, que inclui, que acolhe. Que pagamos impostos altos e se alguém morre por falta de atendimento médico ou bala perdida, isso é sim um problema de todos nós. Que enquanto vivermos este formato egoísta e individualista, mais infelicidade e caos atrairemos para nossas vidas. Que o importante é ter bons amigos e para isso, precisamos ser bons amigos. Que a Matemática, o Português, a Geografia e a História são fundamentais, se tiverem um bom caráter. Caso contrário, de nada adiantará atrás das grades ou na imensidão da solidão. Que corrupção é uma droga ilícita e com alto poder de destruição. Mata, aniquila, acaba com a possibilidade do justo. Que tanto faz o sobrenome, o bairro, a conta bancaria, cor da pele, opção sexual ou religiosa. De nada vale nada disso mesmo, independente de crenças. Aliás, conheço muito ateu com "Deus" no coração. Mas, olha, se for muito pesado, para você e para mim, batalhar por tudo isso, desejo que possamos ao menos incutir em nossos filhos o resumo disso tudo: “Não faça com os outros aquilo que não gostaria que fizessem com você."
Um Bom Natal e Próspero Ano Novo!
Paula Santana


Até a próxima!!!