SÓ PUXANDO FERRO MESMO!


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“Para ser uma avó participativa, só fazendo musculação”.
O desabafo de uma senhora no pilates me fez rir. Muito. Antigamente, vó boa era aquela estilo Dona Benta. Óculos na ponta do nariz, cabeça branquinha, voz rouquinha, colo gordinho e nas costas, um belo e robusto xale de crochê para proteger a saúde do sereno. É! Também sou do tempo do sereno. Em que gripe era apenas uma questão de golpe de ar. Nossa! Fui longe agora. Mas, enfim, o fato é que hoje, para acompanhar a geração do tipo “índigo/ cristal”, só vovó puxando ferro mesmo.
Os bebês de um passado não muito distante, da minha época, por exemplo, passavam quase que o primeiro mês inteiro no silêncio de seus quartos. Mais calmos e sossegados, pouco exigiam fisicamente de seus familiares. Arrisco dizer que os nenéns de agora poderiam até telefonar para os pais lá de dentro do útero da mãe, durante a gestação. Já nascem arregalados, dando conta de tudo, uma curiosidade à flor da pele, quase podem falar. Assustador! E ninguém preparou a gente para isso. A mãe preocupada com babador, cueiro e umbigo, enquanto a criança já nasce hablando Google. Uma discrepância. Sabe aquela coisa: O Brasil discutindo burocracias e no primeiro mundo, logo ali nos States, o pessoal trabalhando na engrenagem de uma impressora 3D? Só vovó puxando ferro mesmo!
E agora a história das empregadas domésticas. Sou a favor de uma maturidade social, claro. Acho muito bacana que mulheres, como eu, possam ter seus direitos reconhecidos, regulamentados e definitivamente respeitados. Só tem um detalhe nisso tudo: vivemos em país muito atrasado para dar conta de uma lei tão hi tech. Para que houvesse um sucesso integral, a palavra, o caráter, a ética e a moral, teriam que ser como em Londres, ou seja, artigo de prateleira, fácil de achar, mole de encontrar. Parece que lá, na terra da rainha, as empresas valorizam e respeitam a mulher que é mãe, dona de casa e esposa. Já por aqui, conheço gente que precisa inventar médico para poder comparecer a reunião escolar dos filhos em horário comercial. Arcaico o negócio. Só vovó puxando ferro mesmo.
Tenho uma amiga que da condição de vó, se viu obrigada a ser mãe mais uma vez. Dever de casa, roupa, lazer, alimentação, tudo é com ela. A filha nunca assumiu nada. Sumiu no mundo. Claro que malha. Tem que malhar, óbvio! Para dar conta de um recado destes, só puxando ferro mesmo.
A senhora que conheci na aula de pilates me explicou que para acompanhar o netinho no clube, na praia ou no parque, precisa de muito preparo físico. De disposição para curtir com qualidade momentos que, outrora, fizeram parte de uma obrigação. Sem falar no tal do Play Station que, segundo ela, exige muito da musculatura superior. Acredita que para ser avó no século XXI, é necessário mais que uma mente sã.  Que driblar rugas em consultórios dermatológicos. É preciso ter força, flexibilidade e animação para acompanhar a velocidade de um tempo, que nem mais tempo tem para o tal do Alzheimer e outros gringos. Insiste comigo que para cuidar ou simplesmente curtir o presente que o filho lhe deu, só puxando ferro mesmo.

Até a próxima!