ENTRE UMA QUESTÃO E OUTRA

Raphael Santana



O pediatra acha interessante uma reeducação alimentar. De primeira, antes de procurar uma nutricionista, acha importante conscientizar. E para conscientizar, legal se eu, a mãe, puder anotar tudo o que a criança comer durante uma semana inteirinha. É isso mesmo: um diário completo por sete dias de tudo o que for consumido na hora do café, do almoço e da janta. As beliscadas inclusive, evidentemente. Cansaram? Eu fiquei exausta só de ouvir, confesso. Quando penso que vou começar a sair do tronco .... Selvagem!
A ideia central é não estressar, diminuir ao máximo a ansiedade frente a uma provável restrição dos alimentos “gostosos”. Evitar uma relação neurótica com a comida. E, segundo o doutor, esta questão vale para mais ou para menos, ou seja, insistir para que o filho coma mais, no desejo que ele engorde ou cresça é prejudicial na mesma proporção que o inverso.
Acredito que minha situação seria bem mais fácil se o lance fosse apenas evitar doces e refrigerantes. O problema é que minha cria é democrática no quesito alimento tal qual eu fui a minha vida inteira. Traduzindo: do fast food ao macrobiótico, amamos tudo que é comestível. Ir para a cozinha preparar sanduiches, bolos, tortas. Alegria em função da boa mesa é uma temática na minha família. Todos já nascemos assim. É genético. Desconfiamos de quem não gosta de comer. E por quê? Por que existe o componente Engorda? Para quê, reformulando a pergunta? E isso me leva a refletir sobre o preconceito que sofrem os gordinhos. Toda essa história de inclusão. Palavra aliás, esta, que serve para tudo, menos para quem está fora das medidas. Sim, porque se existe uma categoria que permanece à margem da sociedade, essa classe é a dos gordos. Ninguém se preocupa com gordos. Ninguém tolera os gordos. São encarados como relaxados, pessoas preguiçosas, sujas, sem asseio. E sei muito bem do que estou falando porque nasci avantajada. Cresci avantajada. Só não sofri bullying na escola porque minha inteligência chamava mais atenção do que meus quilinhos a mais. Inteligência para o mal, admito. Tinha um certo talento para o deboche, o sarcasmo, fazia parte da turma dos fundos. E recentemente soube que Tatá Werneck também integrava esta faixa na sala de aula. Que a atriz Fabiana Karla nunca sofreu socialmente com a obesidade por conta da autoestima elevada. Olha, olha ... e pensar que eu poderia ter sido tipo uma das duas?!?!? #Só que não. E a situação do meu baby é bem diferente da minha também. Nasceu com bom coração. Outro dia caiu da escada quando a garota da sala ao lado gritou em público: goooooorrrrrdaaaaaa!!!! Sacanagem. Ficou tão assustada que tropeçou e rolou até embaixo. Aí me lembrei da filha de uma amiga querida que saiu com a seguinte pérola outro dia:
- Mamãe, eu não tive sorte mesmo, né? Nasci de cabelo crespo, morena e gorda.
Oh, dó. E ela é uma graça! Um absurdo a forma como está construindo a própria imagem diante do espelho. Cruel!!!
Bom, mas desabafos e lamentos à parte, vamos em frente, porque atrás vem gente. E bem magra, imagino eu. O momento é de entender e assimilar a importância da saúde, de comer direito, mesmo que as cantinas escolares digam o contrário. Sim, sou do time que acha que as escolas deveriam ter aulas de culinária, educação alimentar, oferecer lanche saudável e homogêneo às crianças. As mensalidades que pagamos são bem salgadas. Não sou especialista, mas acho que dava para incluir na grade curricular sem precisar de acréscimo. Educar para mim, significa abranger este tema também. Já disse aqui diversas vezes que educação é muito mais que matemática, português, geografia e história. Mas ... tudo bem, enquanto o ideal não acontece, vou caminhando entre uma questão e outra que surge neste meu Adorável Mundo Selvagem que é a maternidade.

Até a próxima!

Paula Santtana