Ilustração: Raphael Santana |
Descobri
com a maternidade que reclamar é um vício.
Algo que se adquire. Faz parte do mesmo detonador do verbo “Comprar”. As
crianças aprendem a falar Papai, Mamãe e Compra. Tenho certeza que muitas vezes
nem estão com fome, com sede, com qualquer tipo de desejo, mas a necessidade de
exercitar o “compra” é bem maior e mais forte que a vontade de receber alguma
coisa propriamente. Estes dias fui busca-los no colégio e mal me viram,
atacaram sem dó e nem piedade:
- Manhê, compra a pipoca! Estamos com sede,
queremos mate.
E
sem conseguir pestanejar fui andando até o caixa da cantina e roboticamente fui
fazendo exatamente o que desejavam. Comprei as pipocas, os mates e, enquanto a
cena toda rolava ali, pensava comigo:
- Puxa, nem perguntaram como estou. A parte de mim que mais importa para eles chama-se carteira. E isso pode significar que mais tarde, quando eu ficar
velha, precisando de carinho, talvez ate de cuidados especiais ... Que medo!
E
meus pensamentos não deram trégua, continuaram em frente:
- E, vem cá: o que mata a sede não é água?
Todos os dias lanchinhos terão que ser proporcionados? Já parou para pensar no
que isso significa emocionalmente? Na mensagem subliminar? Na construção do
caráter destes meninos?
E
meu “eu” interior me fez lembrar de uma amiguinha que para poder entender a minha vida, diz sempre multiplicar por quatro o que acontece na dela.
Com relação a tudo: Amor, tempo disponível, festas escolares, demanda acadêmica,
rotina doméstica e os gastos financeiros. As estrias, celulites, gorduras
localizadas, flacidez e cabelos brancos também estão nesta conta, é óbvio. Ah!
E isso me fez recordar o que outra amiguinha postou recentemente nas redes sociais: “Se eu tivesse o Marcio Atala à minha disposição ..... queria ver Sabrina Sato e meus filhos tirarem onda.” Achei ótimo!!!
Bom,
mas como ia dizendo, mesmo diante das pipocas e mates, ao invés de alegres, felizes e contentes, meu rebentos pareciam ainda mais
irritados e rabugentos. Conseguiram reclamar de tudo e mais um pouco, de repente começaram
a brigar entre si e todo aquele clima, aliado ao trânsito do Rio de
janeiro e mais as reprimendas do meu “eu” interior, foram suficientes para
detonar o lado selvagem que vive dentro de mim:
- Cheeeeegaaaaa! Será que é muito pedir para
que vocês se sintam simplesmente felizes?!?! Independente do que têm ou deixam
de ter? Onde é que estou errando para não conseguir nem um “Oi, mamãe, como foi
o seu dia?” Fiz tudo o que pediram e ainda assim, conseguiram reclamar, brigar, criar este clima insuportável!?!? Acho que o problema é exatamente este, sabem: Estou dando a vocês
muito mais do que precisam para viver. Não estou dando à vocês a oportunidade
de lutar, de conquistar e de também se frustrarem diante das situações que a vida apresenta.
E
antes que pudessem sequer levantar a sobrancelha para concordar ou não,
continuei:
- Vou colocar uma musica agora, de uma banda
chamada “O Rappa” e quero muita atenção. Silêncio absoluto e extrema atenção. Eles vão contar a historia de uma
família pobre, que mora no meio do caos, mas que mesmo assim, diferente de
vocês, insistem em sorrir e cantar, porque acreditam que este tipo de atitude nunca
é em vão. Uma família que tem a mania de achar alegria, motivo e razão onde todos
dizem que não, porque sabem que é aí que está a mágica da vida, meu irmão!
Até a Próxima!
Até a Próxima!
Paula Santtana