A gente pensa que criança é boba, muitas
vezes negligenciamos, subestimamos a palavra certa, a capacidade de
inteligência dos nossos filhos. Eu, recentemente, caí nessa esparrela. A mãe de
uma amiga querida faleceu e entre uma ligação e outra sobre o horário do
velório, enterro, etc e tal, nem me dei conta de que meus “anjinhos” eram o
pano de fundo da cena naquele sábado de despedida.
- Mamãe,
o que é um enterro?
- Oi?,
me espantei com a pergunta de minha filha.
- Eu
ouvi, você disse que vai ao cemitério, porque lá vai ter um enterro!
Neste momento o caçula, 04, vibrou
literalmente:
- Uau!
Você vai no lugar dos mortos? Deixa a gente ir com você, deixa? E quem morreu?
Por que morreu?
Uma pergunta atrás da outra, avalanche de
questionamentos e, para variar, fiquei parada sem conseguir responder aos dois.
Selvagem! E o que dizer? Não sabia como falar a respeito da única certeza que
temos na vida e que, ao mesmo tempo, é também um dos maiores tabus da
humanidade. Envolve crenças e crendices muito fortes. Há famílias, por exemplo,
que sequer pronunciam a palavra Morte. Minha avó paterna, que o Senhor a tenha
em bom lugar, era esse tipo de pessoa. Quando se via encurralada socialmente,
logo substituía câncer por “aquela doença”
e morte por “quando Deus quiser me
levar”.
Não disse nada na hora, me mostrei
apressada, tentei ganhar tempo porque acredito piamente que quando não temos
nada produtivo para falar, a melhor opção é ficar calado. Saí para prestar meu
carinho, certa de que na volta, já teriam se distraído, esquecido o assunto.
Ledo engano! Que inocência a minha.
- Mamãe,
precisamos te falar uma coisa, me disse a pequena 03 no momento em que
entrei em casa. Não se preocupe porque
nós já conseguimos ver no tablet do papai. Achamos no Google o que acontece no
cemitério, como vivem os mortos que viram fantasmas. Tem uns cemitérios que são
feios, sujos, mas tem outros que são jardins com flores e borboletas bem
bonitos. A gente quer ficar no jardim, tá? Só que agora temos uma duvida,
porque não era para as pessoas irem para o céu?
Que confusão! Ave, cheia de graça ....
onde é a saída de emergência? A coisa toda piorou e nem faço ideia de por onde
devo começar. “Queridos, o espirito vai
para o céu e o corpo para o cemitério?!” ou “Se formos bonzinhos, viramos anjinhos e se feios, maldosos, nossa alma
vai para o inferno?” Não tive coragem. Pela grosseria toda desse tipo de
explicação. Selvagem de novo! São nestes momentos que descobrimos como somos
ignorantes. Mal educados mesmo neste sentido. Só assim me dei conta da
profundidade da situação. E das consequências, já que desde então ganhei sócios
de peso na minha cama durante as noites. Pobrezinhos! De nós, os pais,
naturalmente.
Enfrentar a demanda é sempre a opção mais
acertada, uma vez que o nosso papel é criar os filhos para o mundo. Eu acho.
Fui em busca de respostas. A prole ensina. Ô! É de emocionar! Depois de muito
ler, decidi pela simplicidade, pelo que é mais palpável e atingível: A ciência.
Apelei para o ciclo da vida, tratei do tema com a ajuda dos livros de biologia
dos mais velhos. Não sei se psicólogos e especialistas vão torcer o nariz para
minha escolha, mas como sou do tempo das pessoas que curtiam uma “fossa”, tudo
bem. Percebi que a única coisa que não tinha o direito de fazer de jeito nenhum
era me omitir, deixá-los no vácuo e empurrar a tal da Dona Morte para debaixo do
tapete.
Até a próxima!
Paula Santtana