APRENDIZ DE FEITICEIRA



Ilustração: Raphael Santana
    

 “Mãe, adoro suas crônicas. Por que esta semana você não escreve sobre como educar? Tipo os dez passos de uma boa educação?”
     A pergunta do aborrecente me encheu de alegria. Primeiro, pelo elogio ao projeto e segundo, pela confiança implícita: se ele quer que eu “ensine” a educar, é porque acha que foi bem educado. Que Fofo!!!
     Reconhecer no filho um amigo, um parceiro, um companheiro de vida, é algo bastante especial. Comparável ao sentimento indescritível do nascimento de uma criança. Significa que vencemos no amor e na guerra. Que todos os erros e culpas, todas as dificuldades vividas, valeram a pena.
     Criar um filho é muito mais que ensinar matemática, português, geografia ou história. Mais complexo que preparar para uma boa faculdade, para uma vida de sucessos. Criar um filho é fazê-lo perceber que mesmo fazendo tudo certo, as coisas podem dar errado. Que o importante é não desistir. Que as frustrações são reais, que os fracassos fazem parte, mas que sem um e outro, é impossível chegar ao topo. E chegar ao topo significa alcançar o equilíbrio, a generosidade completa, a caridade verdadeira, abandonar-se na vida, aprender a rir de si mesmo, amar antes de tudo. Piegas, mas verdadeiro. É batata! Ame cada virgula e pequenos milagres começam a ocorrer. Incrível! Podem testar.
     O carro, a casa, o emprego, a “vida dos sonhos”, o dinheiro, tudo é legítimo, importante, mas só se a essência for forte. Basta um emocional frágil e medíocre para todo o resto ficar sem sentido. Não. Nunca quis filhos solitários, perdidos ou com dificuldade de trabalhar em equipe. Sempre tive pavor de pessoas insatisfeitas, que estão sempre competindo ou de olho no que é dos outros. O mundo não precisa mais disso. E pai e mãe tem obrigação de corrigir certos defeitos enquanto é tempo.
     Esta semana posso dizer que sou 100 por cento bem-sucedida em minha primeira missão. Embora eu não tenha nas mãos um boletim repleto de notas 10, sou mãe de uma das melhores pessoas que já conheci. Meu filho está pronto para a vida. Pronto para ser um Bom Homem. Alguém a mais para pesar no pêndulo da harmonia e da paz mundial.
     O que mais posso querer da vida? Simples. Que minha tarefa com os outros três termine da mesma forma.  Continuo trabalhando duro para isso e rezando também, claro. Uma ajudinha sempre é necessária.
     E antes que alguém pense que este post é para enaltecer meu Ego, minhas qualidades como mãe, digo que não. Sinto decepcionar. Disse ao adolescente que não posso pontuar passos ou mandamentos. E sou incapaz de fazê-lo porque filho não vem com Bula ou instruções de uso. Uma pena, inclusive. Cada um é de um jeito e nos enlouquece de forma particular. Ele, especificamente, nasceu com boa índole, veio meio pronto de fábrica, fácil de moldar. Ainda não posso ganhar o título de "Dra. Educação". Para isso, vou precisar ter 100 por cento de aprovação com os outros três também. Falta chão. Não tenho know-how suficiente e por enquanto, sou apenas uma "aprendiz de feiticeira". 


Até a próxima!