Paula Santana |
Domingo de sol, Rio de Janeiro,
crianças e a nossa decisão familiar foi
ficar em casa. Pode parecer estranho, até um desperdício, mas a nossa vontade
era curtir uma “house”, como dizem os adolescentes, em vez de de enfrentar
areias quentes, disputar metro quadrado de praia, aquela coisa de fazer parte
da conversa dos outros sem estar a fim. Queríamos ficar à toa, com privacidade,
sem nenhum tipo de compromisso ou função para desempenhar socialmente.
Deitei no sofá da sala, peguei um livro,
e, de repente, me dei conta do silêncio que pairou no ambiente. Teria sido
ótimo, motivo até de comemoração se, se ... eu não tivesse filhos. Quem é mãe, sabe
bem como a calmaria pode significar o caos. Um sinal de problema. E dos
grandes. Que criança fica quietinha, sem fazer barulho, a não ser por motivo de
doença ou quando está aprontando? Decidi levantar e averiguar, enquanto
pensamentos com vida própria invadiam a minha cabeça: “Alegria de mãe dura pouco.” Surpresa! Me enganei. Nos enganamos. Eu e os meus
pensamentos. Aconteceu o inusitado: Os quatro brincavam sentadinhos no chão do
quarto, em completa harmonia, um entrosamento até interessante levando em
consideração a diferença de idade entre eles. “Tudo numa boa”, como diria Rasputia Norbit. Dava para sentir o
cheiro de fraternidade no ar, quase palpável a cumplicidade presente. A cena
era do tipo filme sessão da tarde, bem famílinha “Doriana”?!?! Dispensável
dizer que me emocionei. E isto, segundo meus filhos, não significa grande coisa, já que choro até quando o Bob Esponja se dá mal.
Nunca quis ser mãe de um filho só. Tudo
bem que eu não premeditei mais do que dois, as coisas foram acontecendo, mas apenas
um, eu sempre tive a certeza de que não gostaria de ter. Quem tem irmãos sabe o
quanto é bom a simples sensação de compreensão. Mesmo que você fique meses sem
ver, sem falar, que as afinidades não sejam lá estas coisas, somente um irmão é
capaz de entender tão bem outro irmão. E quando o ódio é a temática da relação,
quando chegamos ao nível de Caim e Abel, arrisco apostar que seja o resultado
do excesso de intromissão dos pais. Irmãos têm toda uma relação própria, que
deve ser independente, não pode e nem deve sofrer interferências. Agora, quando
essas interferências ocorrem, não tem jeito: a competição, o ciúme e a inveja
tomam proporções doentias. E
isso me remete a um filme antigo à beça, chamado “O que teria acontecido a Baby Jane”. Maravilhoso! Todo mundo tinha que assistir Beth Davis neste papel. A obra mostra de maneira sensacional que as coisas nem sempre parecem o que são.
Bom, agora
vou aproveitar este momento único em que pude até escrever esta crônica inteira sem se quer ouvir um "Manhêêê", continuar o meu livro, sossegada no sofazinho, neste domingo lindo de sol e descansar .... descansar ... descansar ... até ..... que o “Meu Adorável Mundo Selvagem” diga: Só que não, Mammita!
Até a Próxima!
Paula Santana