Google Imagens |
No início deste ano resolvi me dar alta
da análise. Presencial, claro, pois quem entra no tal universo das
transferências, dificilmente consegue retroceder ao estágio do “único angulo”
novamente. O exercício mental é para
sempre. Pelo menos, eu sinto assim na minha vida.
Quando busquei a terapia há dez anos, ela não era propriamente
para mim. Tinha até um certo preconceito, admito, achava que era coisa para malucos, mas
os filhos são capazes de remover montanhas. Naquela época meu primogênito tinha
pouco mais de quatro aninhos de idade e tremia as mãozinhas sem mais nem por quê. Era como um tique nervoso, sabem? E a coisa foi aumentando. Começou a incomodar. Mais
aos outros, é verdade, porque ele mesmo, acho, nem percebia. Acontece que socialmente quem desafina a sinfonia que embala o mundo “perfeito” em que vivemos, não é bem quisto. Aquela coisa
.... tudo que sai do padrão .... o inconsciente coletivo trata logo de
rejeitar. Não suporta nada que faça menção à hipótese da imperfeição.
Bom, uma das psicólogas que consultei na ocasião
me disse que, exceto em casos extremos, provenientes de traumas violentos ou
doenças preexistentes, normalmente quem precisa de tratamento são os pais e não
os filhos. Que através do fortalecimento emocional dos adultos, as crianças
melhoram. Foi a segunda maior porrada que a vida me deu na posse do cargo de “Mãe”. A primeira foi quando a
escolinha deste mesmo filho me sugeriu que talvez ele fosse autista. E o
diagnóstico era baseado justamente no tal tique nervoso. Podem imaginar minha
dor? E ela não tinha raízes no fato em
si, mas na minha insegurança frente à ele. Eu tinha pouco mais de vinte anos e ninguém
falava sobre esta questão abertamente. Autismo??? E por melhor que sejam os avós, às vezes
mantê-los distantes de certos assuntos familiares é a melhor solução. A idade,
além das rugas, é capaz de transformar pessoas outrora tranquilas e
equilibradas em verdadeiros profetas do apocalipse. Para avô e avó, os bebês
estão sempre com frio, com fome, sintomas sugestivos, sofrendo maus-tratos, etc
e tal. Já notaram isso? Pois é .... não sentia a menor vontade de dividir a
ideia de um neto tipo “Rain Man” com nenhum deles. Ia rolar um dramalhão, eu acho. E drama era tudo
que eu não precisava naquele momento. O pior é pensar que mais um pouco serei
eu a encarnar este personagem. Tudo se repete. É só uma questão de tempo o que me separa dos avós dos meus filhos. Selvagem!
Pois bem, fiquei com a tal psicóloga durante estes dez anos, freqüentei direitinho as sessões de análise, meu filho
ficou bom do tal tique nervoso, já está fazendo até vestibular, é um homem que
me enche de orgulho todos os dias, mas .... mas ... tudo se repete. A questão aqui em casa agora atende
pelo nome de Medo. Meu caçulinha está com medo de tudo. De morrer, de ficar só,
de ladrão, de manifestações, de engasgar, de nunca saber onde está o Amarildo. É
sério?!?! “Um Adorável Mundo Perigoso” é
como o meu pequenininho anda percebendo a vida. E meu palpite é de que a coisa toda
passa por uma resistência inconsciente em amadurecer. Sair do colinho da
mamãe, sabem? Virar gente grande? O ano está intenso para ele. Troca de
dentição, de escola, alfabetização, morte do bisavô, enfim, está descobrindo que tudo acaba um
dia. Vamos ver. Enquanto isso, não tem jeito, “Filho remove montanhas 2, A Missão”, me levará de volta ao Divã por tempo
indeterminado. As questões da minha raspinha do tacho são profundas, exigem um olhar
especializado, profissional e sozinha eu não dou conta de responder coisas tão elaboradas como:
- Mamãe, você nem liga mais para onde está o Amarildo, né?
Até a Próxima!!!
Até a Próxima!!!
Paula Santtana